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domingo, 16 de janeiro de 2011

Lady Susan - Carta 20 em Português

Sra. Vernon a Lady de Courcy
Churchhill

Nós temos um convidado muito inesperado conosco no momento, minha querida Mãe. Ele chegou ontem. Ouvi um carro na porta, quando estava sentada com meus filhos enquanto jantavam, e supondo que seria procurada, deixei as crianças e desci as escadas, quando Frederica, pálida como cinza, veio correndo e passou por mim indo para seu quarto.
Eu imediatamente segui-a, e perguntei-lhe qual era o problema. "Oh!" disse ela, "ele está vindo - Sir James está chegando, e o que devo fazer?" Disse isso sem explicação, eu implorei a ela que me dissesse o que ela queria dizer. Naquele momento, fomos interrompidas por uma batida na porta: era Reginald, que veio a pedido de Lady Susan, para chamar Frederica a baixo. “É o Sr. de Courcy” disse ela, corando visivelmente, “mamãe mandou chamar-me, eu devo ir”.
Nós três descemos juntos, e eu vi meu irmão examinando o rosto aterrorizado de Frederica com surpresa. Na sala em que se serve o café da manhã, encontramos Lady Susan, e um jovem que aparentava ser um cavalheiro, a quem ela apresentou com o nome de Sir James Martin – a própria pessoa, que como pode se lembrar, foi dito que ela se preocupou em separar da Srta. Mainwaring. Mas a conquista, ao que parece, não era para si mesma, mas transferiu a sua filha. E Sir. James está agora perdidamente apaixonado por Frederica, e com total aprovação da mãe. No entanto, a pobre moça, estou certa, não gosta dele. E apesar de sua aparência e referências serem muito boas, ele parece, tanto para o Sr. Vernon quanto para mim, um jovem muito fraco.
Frederica parecia tão tímida, tão confusa, quando entramos na sala, que eu senti profundamente por ela. Lady Susan se comportou dando grande atenção a seu visitante, embora eu tenha percebido que ela não sentiu um prazer especial em vê-lo.
Sir. James falou muito e pediu sinceras desculpas por ter tomado a liberdade de vir para Churchill – muitas vezes ria por desculpar-se mais que o necessário – repetia a mesma coisa várias vezes e disse três vezes a Lady Susan que tinha visto a Sra. Johnson algumas noites antes.
Ele uma hora ou outra se dirigia a Frederica, mas mais frequentemente se dirigia a sua mãe. A pobre garota ficou todo o tempo sem abrir a boca, com os olhos baixos, e sua cor variando a cada instante, enquanto Reginald observava tudo que se passava em perfeito silêncio.
Finalmente Lady Susan, cansada da situação imagino, propôs que caminhássemos, e saímos deixando os cavalheiros sozinhos para colocarmos nossas peliças.* À medida que subíamos, Lady Susan pediu permissão para ajudar-me por alguns momentos no meu quarto de vestir, pois ela estava ansiosa para falar comigo em privado. Eu a levei para lá com esse propósito, e assim que a porta estava fechada, ela disse: "Eu nunca fui mais surpreendida em minha vida do que com a chegada de Sir James, e a rapidez com que ele fez seu pedido de desculpas a você, minha querida irmã, embora para mim, como mãe, é altamente lisonjeiro. Ele é tão extremamente apegado à minha filha que não podia passar mais tempo sem vê-la. Sir James é um jovem de uma disposição amável e excelente caráter, um pouco barulhento demais, talvez, mas um ano ou dois vai corrigir isso. E ele é em outros aspectos tão elegível e um par tão adequado a Frederica, que eu tenho sempre observado essa união com o maior prazer, e estou convencida de que você e meu irmão vão dar sua aprovação entusiasta a essa aliança.
Eu nunca havia mencionado essa probabilidade a ninguém antes, pois achava que enquanto Frederica estivesse na escola, seria melhor que isso não se tornasse conhecido. Mas agora que estou convencida de que Frederica está velha demais para o confinamento da escola, passei a considerar a união com Sir. James como algo não muito distante, e tinha a intenção de familiarizar você e o Sr. Vernon com o assunto nos próximos dias. Tenho certeza, minha querida irmã, que você me perdoará por manter silêncio sobre o assunto por tanto tempo, e concordará comigo que nestas circunstâncias, quando se fica em incerteza por qualquer motivo, se requer muita cautela.
Quando você tiver a felicidade, dentro de alguns anos, de conceder sua linda Catherine a um homem cuja família e caráter são igualmente irrepreensível, você saberá o que sinto agora, embora, graças a Deus, você não terá tantos motivos quanto eu tenho para me alegrar nesse caso. Catherine será uma mulher amplamente talentosa, não como minha Frederica, que depende de um pouco de sorte para estabelecer uma vida confortável.”
Ela concluiu exigindo meus parabéns. Eu lhe dei meia sem graça, pois, na verdade, a revelação súbita de uma questão tão importante tirou de mim o poder de falar com qualquer clareza. Ela agradeceu-me muito carinhosamente por minha preocupação com e seu bem-estar e de sua filha. Então disse: “eu não sou boa para confissões, minha querida Sra. Vernon, e nunca tive o talento conveniente de demonstrar os sentimentos de meu coração, e por isso confio que você vai acreditar em mim quando digo que apesar de tudo que tinha ouvido falar em seu louvor antes de te conhecer, eu não fazia idéia de que viria a amar você tanto quanto amo agora. E devo ainda dizer que sua amizade é para mim mais particularmente gratificante, pois tenho razões para crer que foram feitos esforços para predispô-la contra mim.
Eu só desejo que estes, sejam eles quem forem, a quem devo este tipo de intenções, pudessem ver as condições em que agora estamos unidas, e compreendessem o verdadeiro afeto que sentimos uma pela outra. Mas, não a deterei por mais tempo. Deus lhe abençoe pela bondade que tem demonstrado por mim e minha menina, e que continue a lhe dar a mesma felicidade que tem no presente.”
O que se pode dizer de uma mulher assim, minha querida mãe? Com tal solenidade e seriedade de expressão! e no entanto não posso deixar de suspeitar da veracidade de tudo o que ela diz.
Quanto a Reginald, acredito que ele não saiba o que fazer sobre o assunto. Quando Sir. James chegou, ele aparentou espanto e perplexidade. A insensatez do rapaz e as confusões de Frederica o deixaram completamente absortos, e apesar de um discurso privado com Lady Susan ter surtido algum efeito, ele ainda está magoado, estou certa, por ela ter permitido as atenções de tal homem a sua filha.
Sir. James convidou-se com grande compostura para permanecer aqui por alguns dias. Esperava que não achássemos estranho, estava ciente de sua impertinência, mas tomou a liberdade de uma relação; e concluiu, desejando com uma risada, que possa realmente  ser, muito em breve.
Mesmo Lady Susan parecia meio desconcertada em seu coração com essa desenvoltura, estou convencida de que ela realmente desejava que ele fosse embora. Mas, algo deve ser feito por essa pobre moça, se seus sentimentos são realmente como tanto seu tio como eu, achamos que são. Ela não deve ser sacrificada pela diplomacia ou ambição. Não deve ser deixada sofrer de temor. Uma menina cujo coração sabe distinguir Reginald de Courcy merece um destino melhor do que ser a esposa de Sir. James Martin.
Tão logo consiga ficar sozinha com ela vou descobrir a verdade, mas ela parece me evitar. Espero que isso não proceda de nada de errado e que eu não descubra que tenha julgado ela com excessiva bondade. Seu comportamento com Sir. James certamente demonstra muita sensatez e constrangimento, mas não vejo nada nele que sirva de encorajamento. Adeus, minha querida mãe.
Atenciosamente:
C. Vernon

*Peliça - Cobertura ou vestimenta feita ou forrada de peles finas e macias.

Autora: Jane Austen
Tradução de: Bruna Tavares

2 comentários:

Giovanna disse...

Ei! Bruna! Tem um selo pra vc no meu blog! Vai lá vê! Beijos

http://wheretheworldended.blogspot.com/

gabi2007 disse...

Lady Susan é toda diva. rsrs
Queria eu conseguir mentir tão discaradamente assim. XD

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